Páginas

domingo, 22 de julho de 2012

Whatsername - Capitulo três


She's a Rebel!
"She brings this liberation,
That I just can't define!"
Chay, você... – parei no meio, sem coragem.
- Sim, Thur, eu te amo. Não, Thur, eu não vou namorar com você, me desculpe. Meu negócio são as mulheres.
Ri, divertido.
Estava levando Chay à sua casa depois da entrevista. Nunca havia tocado naquele assunto com nenhum deles antes, mas aqueles sonhos e flashbacks estavam me assustando. Eu precisava fazer alguma coisa a respeito. Precisava de algumas respostas.
- Não, é sério agora... – respirei fundo. – Você se lembra de uma garota que apareceu chorando na nossa porta, na nossa primeira turnê, em Bristol?
Chay ficou mudo, pensativo. Depois coçou a barba rala.
- Cara, não lembro, não!
- Claro que lembra! – exclamei, meio puto. – Aquela da boina vermelha, óculos pretos...
- Aaaah! Sim, claro que eu me lembro! – ele riu. – Bem gata...
“É, eu sei...”
- Por quê? - perguntou, interessado.
- Você lembra o nome dela? – soltei de uma vez, ansioso, ignorando sua pergunta.
- Aí você tá pedindo demais, dude... Eu não lembro nem o que eu comi ontem, e acho que ela nunca chegou a dizer seu nome pra gente... Por que a pergunta?
Ri, nervoso. É, ela não havia dito seu nome pra eles, era verdade, mas pra mim havia dito. E eu não conseguia me lembrar.
- Sei lá... Estava lembrando dela, aquele dia foi engraçado. - não era mentira. Mas também não era toda a verdade.
- Hm... Mas eu lembro da Ágata. Lembra dessa? - ele riu, arrancando uma risada rápida de mim. - Bons tempos, cara, bons tempos...
Parei em frente a sua luxuosa casa, dentro do condomínio fechado em que morávamos. Chay saiu do carro, agradecendo distraído. “Entrevista amanhã às 10h30, Thur, não se atrase de novo!” ele gritou, antes de entrar na casa.
Avancei pela rua. Cheguei à minha própria casa, mais cansado do que deveria. Joguei-me no sofá em que dormira na noite anterior, fechando os olhos...

Flashback On.

- Micael, você é um babaca... – comentei, enquanto ele colocava uma lata de cerveja gelada no galo da cabeça.
- Ele quem começou... – murmurou, infantil.
- Anyway, cara, não saia daqui, o cara lá fora quer te matar... - aconselhei, saindo do quarto e fechando a porta atrás de mim.
Primeiro a briga na cozinha, depois aquilo... Aquela noite estava sendo uma bosta. Uma grande e fedida bosta.
Cruzei os corredores, trombando com a menina da boina. Sorri, verdadeiro, e ela sorriu fraquinho. Seu rosto não estava mais vermelho, mas ela parecia agitada.
- Como vai, boininha? - perguntei, querendo fazê-la rir, não sabendo exatamente por quê. Ela sorriu sem mostrar os dentes, com os olhos ainda vermelhos. - Está tudo bem? Aquele cara... Está te incomodando?
Sabia que em briga de marido e mulher não se metia a colher, mas algo dentro de mim queria acabar com a raça do filho da puta que a estava enforcando.
- Ele me incomoda há quatro anos. - ela comentou, dando de ombros. - Um dia a mais, um dia a menos, não vai me fazer perder a paciência.
Cocei a nuca. Aquela menina era esquisita... Sexy, mas esquisita. E de um modo completamente bizarro, eu gostaria de beijá-la. Seus lábios pareciam ter vida própria, me chamando...
- Vá se divertir, não precisa se preocupar comigo. - ela passou por mim, sem rumo.
- Olha só, você... - chamei, e ela se virou no mesmo instante, como se esperasse por aquilo. Sorri amarelo. Eu não sabia o que ia dizer, só queria chamar sua atenção. - Você não quer, sei lá, beber alguma coisa?
- Preciso voltar ao meu quarto. - ela deu de ombros.
- Vamos lá, só uma cerveja. - insisti. - Vamos ao terraço, você vai curtir a festa e esquecer seu namorado.
- Meu namorado está no terraço. - ela disse, amarga.
- Então nós podemos ir lá embaixo, na piscina. - peguei sua mão, e ela estremeceu. - O que me diz?
Ela hesitou um pouco, mas acabou dando de ombros.
- É, pode ser. - ela soltou sua mão da minha, caminhando em direção ao elevador. Entramos, e ela continuou muda ao meu lado. Senti minhas mãos soarem, em contraste com minha pele fria em contato com o ar-condicionado do cubículo. Eu poderia muito bem estar lá em cima caçando minha presa, mas de algum jeito estranho, a garota da boina vermelha parecia bem mais interessante. Ela parecia aquele tipo de menina que precisava desesperadamente de um abraço.
Descemos no primeiro subsolo e caminhamos por um longo corredor que cheirava a cloro. Aquele típico cheiro de piscina. Chegamos ao final dele e abrimos a porta. O lugar estava completamente vazio. Sem nenhuma alma viva. Até a água estava estática. O único barulho que ouvíamos era o do aquecedor.
- O que vai querer? - ela soltou minha mão, indo até o bar vazio. - Cerveja?
- Não tem ninguém aí. - balbuciei o óbvio. Ela soltou uma risadinha marota - seu estado de espírito havia mudando da água para o vinho - e pulou a bancada, entrando no quiosque. Abriu o frigobar e pescou duas cervejas geladas. - Bom, parece que você resolveu nosso problema.
Aproximei-me do bar, pegando a cerveja da sua mão. Ela pulou a bancada novamente, sentando-se no frio do mármore. Sentei-me em um dos bancos, dando um longo gole na minha bebida. Ela imitou meu gesto e nós ficamos parados, observando o azul da piscina cristalina.
Perdi-me em pensamentos, um tanto quanto agitado. Não senti a movimentação atrás de mim, e quando me virei deixei meu queixo cair um pouco. A garota estava só de roupas íntimas, terminando de tirar os sapatos. A boina não estava mais em sua cabeça, deixando seu cabelo respirar, e os óculos estavam ao lado das roupas. Ela jogou a sapatilha do pé direito longe e encostou os pés no chão. Olhei-a de cima a baixo. O que diabos ela estava fazendo?
- Quem entrar por último é a mulher do padre? - ela brincou, apontando com a cabeça para a piscina.
- Se formos pegos aqui nesse horário podem nos expulsar do hotel... - disse a primeira coisa que veio à minha mente.
- Cagão. - ela virou os olhos, dando impulso e se jogando na água.
Pisquei os olhos algumas vezes. Aquilo estava
 mesmo acontecendo.
Ela emergiu na água, olhando diretamente para mim. Nem preciso dizer que no instante seguinte eu estava tirando minha roupa.


Flashback Off.

Acordei com o telefone tocando. Dei um pulo do sofá, cambaleando até o criado mudo. Peguei o telefone na mão, trêmulo. Apertei o "send" e respirei aliviado ao ouvir a voz de Alice. O sonho fora tão real que por um momento achei que tivesse voltado no tempo.
Thur, vou me atrasar um pouco, mas chego em casa umas dez horas, tudo bem? - olhei no relógio, constatando que havia dormido por mais ou menos sete horas. Eram 18h23.
- Tudo bem... - assenti sozinho com a cabeça. - Se precisar, sabe onde me encontrar.
- Sim, eu sei. - ela riu, e meu coração deu um pulo no peito. - Até mais tarde, meu amor. Eu te amo.
- Eu também te amo. - vomitei as palavras, ansioso para dizê-las. - Até mais tarde, Lice.

Nenhum comentário:

Postar um comentário