Down On The Street.
"Thought I ran into you down on the street...
Then it turned out to only be a dream!"
- Já estou aqui, relaxa, cara... – acalmei Micael, que gritava no celular. – Cinco minutos e eu estou aí.Then it turned out to only be a dream!"
Estacionei meu carro na rua, mão de vaca demais para pagar 10 libras por um estacionamento, e enfiei um boné na cabeça, completando meu disfarce. Atravessei a rua de cabeça baixa, procurando não chamar atenção. Cheguei ao outro lado e me camuflei no meio da multidão. Caminhei olhando para baixo, só levantando o rosto ao esbarrar em alguém.
- Me desculpe... – murmurei, subindo os olhos pelo corpo da garota em que tinha esbarrado. Sapatilhas de veludo pretas, saia xadrez, malha preta de manga comprida com decote princesa... Poderia... Seria ela? – Eu... Eu... – perdi a fala, incrédulo.
- Algum problema, Natasha? – ouvi uma voz masculina atrás de mim. Virei-me, piscando os olhos, para encontrar um cara de uns 30 anos me olhando desconfiado. Ao voltar os olhos para a mulher, encontrei-a usando uma calça jeans de cintura alta, regata branca e saltos. Não tinha 17 ou 18 anos, tinha 30. Não usava óculos nem boina.
Senti-me o cara mais idiota do mundo.
- Me desculpe... – repeti, vazando dali o mais rápido possível.
Eu estava ficando louco! Completamente louco!
Fui até o prédio da rádio onde daríamos a entrevista, passando batido pelo porteiro, que nem reparou em mim. A recepcionista me encaminhou a um elevador e indicou o vigésimo terceiro andar. Entrei no elevador meio fora de mim. Eu ofegava, meu coração batia rápido e minhas mãos soavam.
Vendo coisas... Além de tudo, agora estava vendo coisas!
Subi os vinte e três andares batucando freneticamente em minha perna. Desci no andar indicado completamente alterado. Chay me esperava no saguão.
- Nossa, dude, você viu um fantasma? – ele perguntou assim que me viu.
“Quase... Mais ou menos isso...” pensei, mas sorri, calado.
- Vai, vamos acabar logo com isso... – ele bocejou, dando meia volta. Fui atrás dele, sem condições para reagir.
“Finalmente!” todos suspiraram assim que eu entrei no estúdio. Sorri, anestesiado pela adrenalina, e sentei-me na única cadeira vaga.
- Voltamos, agora com o quarto integrante! Diga “oi” Arthur Aguiar! – o locutor exclamou, assim que a luz ficou vermelha.
- E aí, pessoal! – engasguei no microfone, minha voz saindo rouca.
- Eu estava esperando o Thur chegar pra perguntar o que todos os fãs de McFLY gostariam de saber: Qual foi a de Party Girl? Quero dizer, não é nada parecido com o estilo de vocês... É vontade de competir no mercado norte- americano?
Olhei para Chay, que ria. Micael e Pedro também. Sabíamos que aquela pergunta viria, mais cedo ou mais tarde. Apontei com a cabeça para Micael, indicando que ele responderia aquela pergunta. Ele se aproximou do microfone e eu desliguei.
Flashback On.
- Cara, pega mais uma cerveja pra mim? – Micael pediu, ligeiramente bêbado.
- Duas! – Pedro pareceu brotar do chão.
- Faça disso três e nós temos um acordo! – Chay comentou, fazendo a menina com quem conversava rir.
Virei os olhos. Só obedeceria porque minha própria cerveja havia acabado.
Atravessei a enorme multidão que lotava o terraço do hotel e entrei na cobertura. Ali só alguns casais conversavam, deixando a atmosfera mais tranquila. Fui até a cozinha, estancando atrás da porta. Vozes gritadas saíam de lá de dentro.
“Você é um babaca! Como pôde fazer isso comigo? Você não cansa de me humilhar?”
“Pare de ser dramática, foi só uma porra de um beijo...” uma voz masculina respondeu, meio arrastada. Parecia estar bêbado.
“Só um beijo? Só uma porra de um beijo? Eu vi vocês dois! Por que você beijaria alguém totalmente pelado? Eu sou a porra da sua namorada, Peter! E você não me respeita! Nunca me respeitou! Só sabe beber e arranjar confusão! Você é um monstro! Você sempre estraga tudo!”
Então ela ofegou um “me solta!” e logo em seguida ouvi algo se chocar contra a parede. A voz masculina murmurou “agora eu vou calar sua boca, sua vagabunda!”
Abri a porta de supetão, encontrando um cara alto e loiro segurando a garota da boina vermelha pelo pescoço, forçando-a contra a parede. Ela estava vermelha, e parecia desacordada.
- Solta a garota, seu covarde filho da puta! – me ouvi gritar, desferindo um soco certeiro em seu nariz. O cara cambaleou para trás, fechando os olhos verdes com força, e a garota se apoiou na parede, desnorteada. – Por que não mexe com alguém do seu tamanho, seu babaca? Vaza daqui antes que eu chame a porra da polícia! – terminei, ofegante.
O garoto passou a mão pelo nariz, fazendo uma careta ao ver o sangue nos dedos. Recuou dois passos e começou a andar em direção à porta da cozinha. Não sem antes lançar um olhar mortífero para a garota e vociferar:
- Isso vão vai ficar assim. – ameaçou, passando pela porta como um fantasma.
Olhei ofegante para ela, que me olhava sem expressão.
- Quem é você? – perguntou, com a respiração cortada.
- Um “obrigada” seria mais educado... – comentei, nervoso pela descarga de adrenalina, fazendo-a rir.
- Obrigada. – murmurou, envergonhada. – Você não precisava ter feito aquilo.
Olhei para ela, confuso.
- Como não? O cara ia te matar! – exclamei, e ela abaixou os olhos, ficando séria. – O que foi? Disse algo errado? Fiz algo errado?
- Você? – perguntou, subindo os olhos. Eles eram castanhos e profundos. – Não!
Que papo de maluco era aquele?
- Quer que eu chame a polícia? - perguntei, pegando meu celular no bolso.
- Não! - ela gritou, vindo até mim e recolocando o celular em meu bolso. - Não faça isso. Por favor.
Seus olhos eram suplicantes. Vacilei, antes de devolver o celular ao bolso.
- Tudo bem, como quiser... Arthur Aguiar, mas pode me chamar de Thur. – estendi a mão para ela, tentando amenizar a situação.
- Prazer, Thur. – ela cantarolou, como se não quase fora morta segundos antes. – Eu sou...
- Aguiar! – Pedro invadiu a cozinha, desesperado. – O Micael tá brigando com um cara lá fora!
Suspirei, virando os olhos. Sempre Micael... Sempre ele...
Olhei para a garota na minha frente, uma bonequinha despedaçada. Lancei um olhar de desculpas e saí sem me despedir.
Flashback Off.
Se ao menos eu tivesse ouvido seu nome ali mesmo, talvez não tivesse esquecido... Talvez...
- Acho que o Thur chegou só em corpo, galera! – o VJ me tirou dos pensamentos. Sorri, envergonhado.
- Foi mal, estou morrendo de sono... – me desculpei no microfone.
- Ouviram só isso, meninas? Thur está exausto! Qual de vocês se candidata a cuidar dele?
- Eu! – Micael exclamou, afetado.
Rimos todos. Era um novo começo para o McFLY! Infelizmente eu parecia estar preso ao passado...
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