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domingo, 22 de julho de 2012

Whatsername - Capitulo quatro


She Screams In Silence...
"Waking up this time,
To smash the silence with the brick of self-control!"

Olhei pela janela, observando os tons de azul escuro brigarem com os tons de laranja claro para ver quem cobriria o céu. Pesquei meu celular no bolso, depois de muito pensar, ligando para Micael. Ele atendeu, meio sonolento, e eu tinha certeza que ele havia passado a tarde dormindo, assim como eu.
- Fala, vagabundo. - ele brincou.
- E aí, cara! - cumprimentei, sem saco para brincadeiras. - Micael, me diz uma coisa, você se lembra do nome daquela garota de boina que apareceu chorando na porta do nosso quarto na turnê de 2005, em Bristol? - soltei de uma vez. Precisava tirar aquele peso da minha cabeça.
- Hm... - ele murmurou. - Sei lá, cara, acho que ela não chegou a dizer o nome pra gente, chegou? Aliás, por que você quer saber o nome dela?
- Por nada... - suspirei. - Só estava tentando me lembrar.
- Se conseguir essa proeza, me avise! - ele pediu. - Ela era bem gata.
Desliguei o celular depois de me despedir, antes que ele fizesse mais perguntas. Quanto menos ele soubesse, menos os outros saberiam, menos Alice poderia saber dos meus sonhos.
Fui até a cozinha, colocando um pacote de pipocas no microondas. Sentei-me na mesa, observando tudo ao meu redor.
Como eu não conseguia lembrar-me de seu nome? Como? Era tão óbvio, os momentos que passamos juntos estavam tão frescos na minha cabeça!
Bati com a cabeça no vidro, dando leves batidinhas em seguida. Tinha que me lembrar. Tinha que me lembrar!

Flashback On.

- Boininha, já é meio tarde. - comentei, ao seu lado. Estávamos na piscina, que já começava a ficar fria. Meus dedos estavam enrugados. Ela gargalhou, e sua risada era quente. Assim como todo o resto de seu corpo.
- Esse apelido é engraçado... - suspirou, encostando a cabeça em meu peito e me abraçando. Arregalei os olhos com a atitude repentina, sem saber direito o que fazer com as minhas mãos. Depois de uma briga interna, decidi por colocá-las em seu cabelo molhado. Ela suspirou. Ela era maluca. Completamente maluca! Numa hora estava me ignorando por completo enquanto eu tentava puxar assunto, e na outra me abraçava, como se fôssemos velhos amigos, ou algo mais... Eu havia ficado a noite inteira tentando sacá-la, sem nenhum progresso. Aquilo estava me deixando confuso.
Apoiei o queixo no topo da sua cabeça. Seu cheiro era inebriante. Durante as duas horas em que havíamos conversado na piscina, descobri que me identificava mais com ela, uma pessoa que havia conhecido em menos de 24 horas, do que com pessoas que convivi a vida inteira. Ela tinha os mesmos gostos que eu, o mesmo senso de humor, os mesmos hábitos, e me fizera rir várias vezes, o que era uma raridade. Ela podia ser meio maluca, mas sabia muito bem como conquistar alguém.
Só uma coisa me impedia de pensar em tentar conquistá-la de volta.
- Qual é o nome dele? - pensei em voz alta, logo em seguida cobrindo a boca com a mão. - Você não precisa me contar isso se não quiser, claro.
- Ele se chama Peter Jerkins. Tem 24 anos, é seis anos mais velho que eu. Somos namorados há quatro anos.
Ficamos em silêncio. Ela parecia estar pensando em como continuaria a história, e eu permaneci calado, incentivando-a. Estava curioso. Ou até mesmo enciumado.
- Eu o conheci em uma festa. Nós ficamos na mesma noite e na semana seguinte ele me pediu em namoro. Parecia um príncipe, era tudo o que eu queria... Mas alguns meses depois as coisas começaram a dar errado. Minha mãe adoeceu, a depressão bateu profunda. Começou a ter ataques psicóticos, e a tomar remédios muito caros. Meu pai não aguentou a pressão e foi embora, me deixando sozinha com ela. Paralelo a isso, Peter me bateu pela primeira vez. - ela respirou fundo. - Nas primeiras vezes, ele pediu desculpas, implorando para me ter de volta. Começou a pagar os remédios para a minha mãe, pois vem de uma família muito rica, e eu comecei a depender cada vez mais dele. Em troca dos remédios, deixava ele me bater, depois de beber muito. Hoje você viu uma prévia disso. Mas eu não posso me separar dele. Só ele pode pagar os cuidados que minha mãe precisa. Só ele pode me ajudar...
Ela terminou o relato de sua vida relativamente calma. Não parecia prestes a desabar, como qualquer garota normal em sua situação faria. Estava firme. Parecia até mais feliz, por finalmente desabafar com alguém, mesmo que esse alguém fosse um estranho qualquer com quem resolvera dividir algumas bebidas.
Aquele era um daqueles momentos em que nada fazia sentido, mas tudo parecia... Se encaixar.
- E o que vocês estão fazendo aqui no hotel? - perguntei, segurando-me para não subir até o terraço e acabar com a raça daquele filho da puta.
- Hoje eu tive um congresso no centro da cidade. Eu faço faculdade de medicina, e vim assistir a uma palestra. Um professor que me convidou. Trouxe Peter comigo porque não gosto de deixá-lo sozinho com a minha mãe. Hoje mais cedo, eu subi para a festa e quando desci para o quarto, o peguei na cama com outra garota, e o resto você já sabe. - ela saiu de perto de mim, e meu corpo pareceu reclamar. Depois saiu da piscina pela escada e foi até o bar se secar.
Saí logo em seguida, sentindo o frio cortar minha pele. Corri até minhas roupas, colocando-as logo depois de me secar.
- Sabe, Thur, você é um cara legal. - ela observou, assim que terminou de se vestir.
- Obrigado. - respondi, olhando fundo em seus olhos inexpressivos. - Você é uma garota muito legal! - aproximei-me dela, minhas pernas se movendo sozinhas, e coloquei uma mecha de seu cabelo molhado atrás de sua orelha. Ela sorriu, tímida, e abaixou os olhos. Assim que os subiu, inclinei minha cabeça e beijei seus lábios, não conseguindo me controlar.
Ela tinha hálito de cerveja, cheirava à cloro e seus lábios estavam gelados. Nada mais excitante.
Empurrei-a contra a parede, beijando-a carinhosamente. Ela abriu a boca ao sentir minha língua, e aprovou a passagem. Envolvi sua cintura com os braços e ela repousou os braços nos meus ombros.
O melhor beijo que já havia provado, sem nenhuma dúvida.
"Preciso ter essa garota pra mim." pensei. "Mas primeiro preciso saber seu nome..."

Flashback Off.

Pisquei os olhos ao ouvir o barulhinho irritante do micro-ondas, avisando que minha pipoca já estava pronta. Fui até lá e desliguei o aparelho. Subi até meu quarto e liguei a TV, tentando me distrair.

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