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sábado, 4 de agosto de 2012

Whatsername - Ultimo Capitulo


You Found Me.
"Lost and insecure, you found me, you found me!
Lying on the floor, surrounded, surrounded!
Why'd you have to wait? Where were you? Where were you?
Just a little late... You found me, you found me!"

- Pedro, não vou poder ir hoje. Estou me sentindo muito mal. - menti, cantando pneus ao virar a esquina. Minha Audi Q7 reclamava pela velocidade em que estava, e eu não me importava. Nem um pouco.
- O que você tem? - ele perguntou, preocupado.
- Não sei, estou indo ao hospital agora. Mas não deve ser nada, só uma intoxicação alimentar. Não se preocupe comigo! Dê a entrevista, quando acabar me ligue, tudo bem?
- Não quer companhia?
- Não precisa. - respondi, desligando o celular sem me despedir. Joguei-o em cima do banco do passageiro, correndo pelas ruas desertas do pequeno bairro residencial. As casas eram todas iguais. As ruas eram todas iguais.
344, 344... Elizabeth morava na rua Amsterdã, número 344, como havia me informado pelo telefone na central de informações. Corri até lá. Não sabia exatamente por quê, mas precisava saber o que tinha acontecido a ela. Depois de relembrar seu nome, precisava saber o porquê de ela, depois de tantos anos, ter voltado à minha cabeça.
Há cinco anos a deixara à mercê daquele psicopata, sozinha, indefesa... Como pude ser tão idiota? Tão insensível? Ela precisava de mim. Havia construído um muro em volta de si, e só precisava de alguém para escalá-lo! Como pude ser tão cego, tão egoísta?
Parei bruscamente em frente ao número 344. A casa parecia destruída. As paredes estavam sujas, o jardim mal cuidado, as janelas quebradas... Estacionei o carro na calçada e subi correndo as escadinhas da entrada. Bati quatro vezes na porta. Ouvi um barulho alto dentro da casa, e fiquei mais impaciente. Alguns segundos depois uma mulher toda de branco atendeu a porta.
- Elizabeth? - murmurei, debilmente, mesmo sabendo que aquela não era a garota da boina vermelha.
- Está lá em cima. Algum problema? - a garota perguntou.
- Preciso falar com ela. Por favor. - implorei. A garota estranhou, levantando a sobrancelha.
- Tudo bem. Suba lá.
Passei correndo por ela, sem nem me explicar. Subi as escadas de dois em dois, entrando de supetão no primeiro quarto que vi, encontrando uma mulher de uns 50 e poucos anos sentada na cama, lendo. Ela me olhou por cima dos óculos, sem nenhuma expressão.
- Me desculpe, estou procurando por Elizabeth Blanco.
- Está falando com ela. - a mulher abaixou o livro, e eu pude ver marcas de agulhas em seu braço. Olhei direito para ela... Se parecia muito com a garota da boina vermelha... Muito...
Então minha ficha finalmente caiu, e eu senti meus joelhos tremerem sob meu peso. Elizabeth era a mãe doente da garota da turnê de 2005. Ela criara uma defesa, mais do que eu poderia imaginar, mentindo até sobre seu nome. Ou talvez ela quisesse me dar aquele nome por outro motivo. Para eu poder procurá-la e encontrar sua mãe? Para que eu pudesse ajudá-la, assim com ela havia ajudado durante toda a vida? Dedicado toda sua vida à mãe?
Mas se Elizabeth era sua mãe, onde ela estaria? E qual era o seu nome de verdade?
- Senhora, desculpe incomodar, mas... Você pode me dizer onde está sua filha? - pedi, e seus olhos ficaram dois tons mais escuros. A mulher toda de branco - sua enfermeira - apareceu atrás de mim, indo até o seu lado.
- Elizabeth, quer que eu o mande embora? Ele está te incomodando? - ela perguntou, me olhando feio.
- Lua... Lua... Ele quer saber onde está minha filhinha Lua... - ela balbuciou, perdendo o ar de superioridade.
Lua. Seu nome era Lua.
- Escuta aqui, quem é você e por que veio atormentá-la? - a enfermeira levantou-se, vindo até mim, com a intenção de me expulsar do quarto. Começou a me empurrar para fora.
- Por favor, eu preciso saber onde ela está, por favor! - eu suplicava, sendo empurrando para fora, sem forças para revidar.
De repente a voz grave de Elizabeth ecoou pelo quarto, e a enfermeira soltou meus ombros.
- Ashley, por favor, solte o garoto. - ordenou. Depois olhou para mim. - Quem é você?
- Thur. Thur Aguiar. - sua expressão mudou. Ela ficou... Feliz. Sorriu, verdadeira.
- Tenho algo para você, Thur Aguiar. De Lua. - ela apontou para a escrivaninha ao lado de sua cama. Fui até lá, tremendo, e abri a única gaveta de madeira podre, encontrando uma carta suja e empoeirada, onde podia se ler "para Thur Aguiar".
Peguei a carta entre os dedos, sentindo uma bola se formar em minha garganta. Podia sentir seu perfume. Provavelmente era um truque da minha cabeça, mas eu podia sentir seu perfume ali, na carta.
- Onde ela está? Por que ela mesma não me entrega essa carta pessoalmente? - perguntei, minha voz saindo falhada.
- Lua faleceu há um mês, Thur. - a enfermeira respondeu por Elizabeth, que não conseguia e nem tinha a intenção de responder. - Teve um edema cerebral.
Travei. Entrei em órbita. O que... O que... Lua havia morrido? De um edema cerebral?
Aquilo não podia ser verdade. Não podia... Ela... Eu... Eu nunca havia dito que a amava! Nunca... Nem mesmo tive a chance, e aquilo tudo era culpa minha! Eu não havia entendido seus sinais e voltado para procurá-la... Peter havia matado Lua. Ela havia recebido tantas pancadas na cabeça que havia morrido. E a culpa era mim. A culpa era toda minha...
Por isso os sonhos há um mês. Por isso ela não me saía da cabeça. Ah, meu Deus! Eu havia matado o meu primeiro amor!
Dessa vez meus joelhos não aguentaram, e eu desabei no chão com a carta em minhas mãos. Meus olhos se encheram de lágrimas, algumas caindo no papel desgastado com o tempo; abri-la com as mãos trêmulas.

Londres, 23 de Agosto de 2010.

Thur,

Lembra-se de mim, "Elizabeth"? Provavelmente não... Talvez possa se lembrar de mim como "boininha", embora eu não as use mais há muito tempo. Usá-las costumava ser um jeito de chamar atenção. De sair da inércia da minha vida. Mas isso não importa. O que eu queria te dizer - se algum dia essa carta chegar às suas mãos - é que eu te amei. Te amei e não fui forte o suficiente para me entregar de alma. Me desculpe... Você não sabe o quanto eu me arrependo, e o quanto é difícil pra mim não ir atrás de você. Eu te vejo na TV, ouço você nas rádios, e sinto meu coração se desmanchar, mas não posso estragar sua vida. Não posso tirar de você um novo amor. Só posso... Relembrar. Do único dia em que passamos juntos, o melhor dia da minha vida. Relembrar e pedir para que algum dia eu tenha forças pra poder viver minha vida sem dor. Eu estou doente, Thur. Muito doente. Peter foi embora ao saber. Tem medo de que saibam que a culpa foi dele. Ele me deixou, e eu só me senti aliviada por isso. Eu só queria gritar de alívio por finalmente ter me livrado dele. Ele me matou, como sabia que mataria desde o começo. Mas eu não me importo. Não me importo se algum dia você se lembrar de mim e chegar até essa carta. Se isso acontecer, tudo valerá à pena. Se você encontrou essas palavras, tenho um último pedido a fazer: Ajude minha mãe. Cuide dela. Eu era o seu porto seguro, e agora também estou indo embora desse mundo. Me ajude, por favor. Me lembrarei de você, Thur. Até meus últimos minutos. Você, de algum jeito, mudou minha vida. E eu espero que tenha mudado a sua. Seja feliz, muito feliz, viva sua vida e ame muito. Ame de verdade. Assim como eu o amo há 5 anos.

Com amor,

Lua.


As lágrimas escorreram pelo meu rosto. Meu corpo tombou sob o assoalho, e eu chorei. Chorei por muito tempo.

4 Anos Depois


"Is there anybody going to listen to my story? All about the girl who came to stay...
She´s the kind of girl you want so much, it makes you sorry!
Still you don´t regret a single day...
Ah girl... Girl... Girl..."


Olhava para a lápide cinza, fria. O vento estava gelado. O seu nome entalhado ali me trazia calafrios. "Lua Blanco". Abaixei-me e depositei na grama verde os lírios que tinha nas mãos. Meus olhos estavam embaçados. Fiquei mais um tempo observando a pedra, as memórias passeando pela minha cabeça. Os poucos momentos que passamos juntos agora se misturavam no labirinto da minha memória, e eu não sabia mais a ordem cronológica das coisas.
Suspirei. Tinha que buscar minha filha na escola, e não poderia mais ficar. Embora quisesse passar o dia ali, ao seu lado. Ainda me sentia muito culpado, embora os anos ajudando Elizabeth tivessem melhorado um pouco esse sentimento corrosivo.
Agachei-me e passei a mão pela pedra, sentindo o entalhamento nos dedos. Mesmo que não pudesse mais senti-la, aquele era o meu jeito de dizer que eu estava ao seu lado.
Saí do cemitério em passos largos, cumprimentando o conhecido porteiro. Entrei em meu carro e atravessei a cidade rapidamente. Em quinze minutos estacionei na porta da escola. Entrei apressado - já estava atrasado - e encontrei a professora sentada ao fundo da sala, com meu anjinho no colo.
- Me desculpe à demora. - fui até as duas, e a professora negou com a cabeça.
- Tudo bem, ela não me deu trabalho nenhum. Como sempre! - ela me entregou a garotinha, que dormia profundamente com os cabelos no rosto. Peguei-a no colo e saí da escola. Liguei para Alice avisando que já estava com ela e que estaríamos em casa em menos de meia hora e apoiei-me no capô do carro. Fiquei olhando para minha filha, o nariz vermelhinho, as mãos enroscadas perto do queixo e os cachos caindo pelas suas costas. Passei a mão pela sua franja, e ela abriu os olhos, sonolenta. Tinha três anos, mas os olhos ágeis e profundos de uma adulta.
- Oi, Lua. - beijei sua testa, e ela sorriu.
- Papai. - disse, agarrando-se a mim.


Aquela era a minha pequena homenagem à garota da turnê de 2005, que mudara minha vida.


FIM.

Escrita por Ray
 Obrigada por lerem, espero que tenham gostado assim como eu gostei. :)
Link Oficial: http://www.leticiablack.com.br/fics/ray/whatsername.html

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